Rotatória
- 2003
- Insola(R)ções, Solar Grandjean de Montigny, PUC-Rio de Janeiro
Rotatória, de Ana Holck, é uma porta giratória construída na mesma escala do espaço que ocu- pa. Se ela executa uma decomposição da unidade deste local através de seus compartimentos móveis, conseqüentemente gera com sua dinâmica um espaço infinito. Ao ingressar na instalação, o visitante se vê repetidamente fazer um mesmo percurso, determinado pela orientação geral da sala, pois, em se tratando de uma parede circular, constitui uma superfície contínua. Entretanto, há aí um problema adicional: poderíamos dizer que este mesmo visitante se encontra sempre em uma “sala de estar”, nunca em uma “sala de ser”. Em uma sala em que sempre se entra, mas nunca se atinge um ponto fixo, objetivo, o estado de repouso lhe é vedado. Isto é, a sala, cuja função em seu programa construtivo seria a de receber, oferecer o momento de descanso e pausa acaba por ter seu estatuto natural invertido, ao se tornar o local não de uma proposital passagem, mas, de uma circulação propositada, cuja meta acaba por ser o ato do percurso em si, o fato de alcançá-la e encontrar-se nela. Ele vê-se continuamente em uma situação transitória, e mesmo de expectativa, quando a permanência se torna o ato contínuo de ingresso, vincula-se diretamente a um incessante estado dinâmico.
[Guilherme Bueno]