Quarteirão

  • 2004
  • Centro MariAntonia (USP)

Quarteirão, de Ana Holck, executa em uma das salas do Mariantonia uma espécie de exercício da negatividade do espaço. Negatividade no sentido de extrair do mesmo seus valores e confrontá-los à « matéria » oferecida inicialmente por ele. Ao invés de restringir o trabalho a um somatório, ao acréscimo de um novo elemento – mesmo que diferencial –  ao local ocupado, sua instalação opta por nele equacionar deduções redutivas, sínteses, como um cálculo. Ao acúmulo, a artista explora aquilo tomado pelo olhar como vazio; se ela assume a possibilidade de um « grau zero » do espaço, este não ocorre como ausência, mas valor factível e permutável. Ali se instala uma materialidade fluida e tensa: a sala, segmentada pelos feixes formados por largas fitas adesivas, é descarnada. Porém, sua espacialidade difere daquela imaginada pela modernidade e seu vislumbre de um prolongamento indefinido – Mondrian, por exemplo –, ou ainda da colagem cubista, em sua torção e compressão do volume; tampouco é vizinha à fixidez distante da perspectiva. Aqui existe uma anti-grade, a determinação de um local materialmente presente, mas que, ao mesmo tempo, obstrui a sala como volume exclusiva e predominantemente arquitetônico, negando à presença física do visitante um papel simplesmente compensatório  ou « complementar » ao trabalho. Há a proposição articulada de um estado oscilante, de vacilo: seu trabalho torna o olho um órgão tátil e formula, reversamente, uma ótica do corpo.

[Guilherme Bueno]