Fuga intitula a instalação de Ana Holck para o edifício do MEC, a primeira expressão dos postulados corbusianos no país. São películas de adesivo translúcido em tons de cinza sobre a pele vítrea do corpo arquitetônico, que se superpõem e se alteram ao movimento aleatório e incerto de abertura das janelas. Não a janela abrindo-se sobre o mundo na idealização, como sonhou um dia a pintura. A fuga aqui não é a evasão do arbitrário do mundo, de um caos que o governa, para abrigar-se no colo abstrato de um espaço transcendente, de um logos no centro do mundo, de um olho ou de um plano no centro do quadro. Fuga é a quebra da longa linha do tempo do Horizonte previsível da História, o desvio da ficção do Mesmo. Fuga como polifonia, como repetição e eterna diferenciação, para fazer irradiar as linhas, os tons, as superfícies. Para multiplicar as peles, os contatos no espaço, os espaços de contato. Para indagar os destinos e a consistência desse homem e deste mundo por onde ele se move sem referências seguras… Fuga como descobrir mundos, (ar)riscar outros horizontes. Fuga como abrir outras janelas. E portas.
Fuga
[Marisa Flórido]