Ensaios não destrutivos

  • 2012
  • Anita Schwartz Galeria, Rio de Janeiro

Já fora da geometria pura e instaladas no mundo variável da contingência, as esculturas de Ana Holck são produtos “de situação”, moldadas à mercê da temporalidade dos gestos e da flutuação dos espaços, inscrevendo a forma em função da experiência. O fluxo irregular de suas dobraduras mantém o olhar do espectador em constante movimento, e a precisão aparente do módulo é dissolvida, ao inserir-se em um meio múltiplo, em que o fixo tem a potência da metamorfose. 

A tensão física dos materiais, por si mesmos incorpóreos e pouco tangíveis, concentra-se na sustentação precária das lâminas de alumínio por cabos e pêndulos, instaurando a fugacidade espaço-temporal da obra e o caráter fantasmático de sua volumetria. Passarelas é obra feita pelo traçar musical de graves e agudos, de luzes e sombras, de estabilidade efêmera, quase uma aparição, que opera o invisível como presença. 

Ana Holck traça pontos e linhas que rastreiam o fluxo inexorável do espaço e do tempo, pontuando seus ritmos com cortes delicados e precisos. A obra-prima por volatizar as matérias concretas da vida comum, para que elas desapareçam ou apareçam pela primeira vez. 

Arquiteturas insondáveis
[Ligia Canongia]