Bastidor

  • 2011
  • SP Arte

Em Bastidor, Holck dá sequência a uma investigação sobre os desdobramentos escultóricos de um tipo recorrente da paisagem urbana, o calçamento hexagonal de concreto. Investigação que aqui extrapola a autonomia do objeto e retoma uma questão cara à artista: a ocupação do espaço arquitetônico como um todo, em diálogo com seus limites. 

Pode-se pensar tal manobra em três tempos, a começar por um simples deslocamento: desenterra- do, o bloco adquire massa e reafirma sua surpreendente presença física no peso e na opacidade do concreto. Termos imediatamente revertidos pela repetição de sua forma hexagonal, que mobiliza um material leve e translúcido, o policarbonato alveolar. É erguido um biombo, que vem pautar nossa trajetória pela sala, mas que é também trespassado por recortes – o hexágono agora inscrito como ausência. Acentuam-se, desse modo, a discrepância entre acesso visual e obstrução corporal, e a entrada em cena, na própria trama formal do trabalho, do jogo de luz e sombra. Caminhamos escora- dos no fino limiar entre uma presença escultórica marcante e sua pulverização, adentrando um produtivo campo de incertezas no qual ver talvez seja menos habitar do que desabituar-se. 

Desabitar-se
[Sergio Bruno Martins]